Quando estávamos decidindo o que fazer no nosso único dia em Lima, lemos sobre o Distrito de Barranco e ficamos bastante atraídos pela ideia de visitar um bairro boêmio, artístico, que une o moderno e o pitoresco. Segundo um artigo da coluna “Viajes” da National Geographic, Barranco é um distrito “Indispensável”. Mas será mesmo?
É verdade que por ali ficam vários cafés e restaurantes, muitos deles com filas em plena quarta-feira. Chegamos já na hora do almoço e fomos direto ao Canta Rana, um restaurante familiar de comida típica, indicado em um desses artigos sobre onde comer em Lima. É um desses restaurantes com um monte de fotografias, cartazes e artigos de jornal nas paredes, além de bandeiras e faixas de futebol dependurados no teto. As mesas são apertadas, e para chegar ao banheiro foi preciso me espremer entre elas, o que não chegou a ser um problema. Os garçons parecem trabalhar lá há séculos, e anotam os nossos pedidos no bom e velho bloquinho. Eu e Marcus comemos um lomo saltado, prato típico do Peru, que é basicamente uma carne de boi cortada em pedaços, salteada com tomate, pimentão e cebola e servida com arroz e batatas-fritas. A comida estava bem gostosa, e, agora, após o fim da viagem, ouso dizer que foi o mais gostoso que comi. Mas era difícil encontrar algum peruano por ali. E esse parece ser o padrão do bairro: um local boêmio e cheio de restaurantes e cafés… Para turistas!
Depois de um café uma sobremesa, encontramos nossos amigos e fomos caminhar pelo bairro. A outra coisa que nos atraiu até ali foi a Street Art, ou, em bom português, a arte de rua. Primeiro passamos por uma instalação de cabeças de urubus e, pouco mais à frente, ao nos depararmos com uma igreja bastante degradada e cheia deles, entendemos o conceito. Diferente, mas curti! A Ermita de Barranco é uma Igreja que foi construída em meados do século XVIII. Foi destruída na Guerra do Pacífico (1879-1884) mas reconstruída ainda em 1882. Foi então fechada após o terremoto que atingiu Lima em 1974 e permanece assim desde então. O telhado já foi destruído quase que por inteiro e os urubus parecem ser as únicas almas vivas que passeiam por lá.
Passamos então pela Puente de los Suspiros, sem conseguir cumprir a tradição: dizem que tem que fazer um desejo de amor, prender a respiração e atravessar num fôlego só. Não fizemos desejos de amor e eu não atravessei num fôlego só. Só espero que isso não me traga azar. Do outro lado da ponte havia um painel bem grande representando María Isabel Granda y Larco, cantora, compositora, poeta, dramaturga e letrista peruana, feita pelo artista Eric Cárdenas. Do lado oposto, uma pintura de outro artista perruano, Jade Rivera.
Descemos então para Bajada de Banos, a rua que passa por baixo da Ponte dos Suspiros e leva a um mirante com vista para o mar. A expectativa era que naquela região encontrássemos paineis e grafitis aos montes, mas não tinham tantos assim. Eram bonitos, chamavam a atenção e, na minha opinião, trouxeram vida pro lugar, mas eram poucos. Descemos a rua onde ficavam também umas plantinhas bonitas, mais alguns (poucos) paineis, umas galerias de arte, dentre elas a de Jade Rivera, mencionado acima, lojas caríssimas de artistas locais e mais alguns restaurantes.
No mirante, a vista para o mar era bonita, mas, nesse sentido, por ser mais alto, Miraflores ganha. Lá tinha uma ponte que levava até a parte baixa da cidade, à beira-mar. Mas também não era muito diferente das passarelas que vemos no Brasil.
Subindo novamente a Bajada de Banos, passamos por uma feirinha, com pouquíssimas barracas, e chegamos ao viaduto que vemos do alto da Puente de los Suspiros, a Puente Montero Bernales, com um painel enorme e bem bonito com rostos de pessoas de diversas etnias sob um céu estrelado. Infelizmente não tenho o nome do autor do painel, se alguém souber, me avise! Ali tiramos umas fotos bem legais!
Mas acaba por aí. Talvez nosso erro tenha sido fazer a visita durante o dia, não sei, dizem que à noite a região fica mais cheia e animada. Eu particularmente gostei do passeio, gosto de caminhadas sem compromissos, com lugares bonitinhos e arte pelo caminho. Num dia inspirado e de céu bonito, pode render fotos bem bonitas, inclusive. O Marcus achou tudo muito artificial, o famoso pega-turista. Fato é que se nos roteiros estava escrito que nos perderíamos em meio a montes de paineis e grafites, a realidade é que uma tarde foi suficiente para vermos tudo. Eu achei que vale a visita, mas, dependendo do tempo disponível e das expectativas, talvez valha mais a pena priorizar outros lugares da cidade.